em um texto antigo, eu afirmei que a ideia de me apaixonar sempre me animou. talvez seja a doutrinação ocidental e burguesa que vende às mulheres a ideia do amor romântico como forma última de realização pessoal (top frases já escritas - orgulho de ser fflch usp!!) ou talvez meu sol e lua em peixes, o conhecido signo de tolos apaixonados. não que eu acredite nisso. de toda forma, eu tenho pensado muito sobre me apaixonar, sobre amar e sobre a ideia de caminho e de chegada (calma, vou trabalhar nisso).
o tópico voltou à minha mente porque tenho observado algumas amigas em relações fofinhas. ambas são mais novas que eu, nunca tiveram um relacionamento sério e estão naquela fase de conhecer alguém com propósitos românticos. tempo bom! com isso, comecei a pensar sobre minhas várias experiências românticas em todos esses anos. e pensei também sobre experiências de outras pessoas - meus pais - que também me afetaram e afetam como eu enxergo o amor romântico.
tem uma anedota sobre minha infância que eu sempre conto pras pessoas e esses dias foi a vez da minha terapeuta ouvi-la. certa vez, após um passeio em família para a casa dos primos do meu pai em Embu das Artes, fiz uma pergunta inusitada aos meus pais assim que chegamos em casa:
"mãe, pai, por que vocês não se chamam de amor igual a tia Áurea e o tio Marcelo?"
uma pergunta inocente, coisa de criança. mas o humor está - isto é, se você achar graça na desgraça - no fato de que meus pais estavam se divorciando. parando pra pensar, acho que aquele passeio tinha sido uma espécie de tour do divórcio. um anúncio, coisa assim, já que minha mãe era super próxima dos primos do meu pai. eu nem lembro qual resposta sem graça eles me deram, porque a anedota é mais sobre a graça que eu vejo em uma pequena eu totalmente alheia ao fato que meus pais não eram mais um casal.
um tempo depois, quando eu já devia ser adolescente, lembro de perguntar à minha mãe as razões do divórcio. por que eles não tinham tentado mais? na época, eu ainda gostaria de ter pais casados. ao que minha mãe respondeu:
"a gente já não se gostava mais, filha. não queríamos começar a nos odiar, seria ruim pra nós e pra você"
é importante ressaltar que meus pais foram um casal por anos, coisa de dez anos de namoro e noivado e sete anos como marido e mulher perante ao Estado brasileiro e à Igreja Católica Apostólica Romana. e quando eles deixaram de se amar como um casal, eles decidiram romper esses contratos. mas há uma coisa que eles concordam: o casamento não deu errado; ele aconteceu exatamente como ambos queriam, e deu certo até não dar mais.”
em outras palavras, eu sempre concebi relacionamentos como finitos. como tudo na vida, as coisas mudam. sentimentos se transformam, coisas acabam. o que não faz sentido, para mim, é evitar algo só por medo de dar errado. essa discussão veio à tona conversando com um amigo. falei como, às vezes, parece que eu assusto as pessoas com a intensidade que eu sinto sentimentos. quando eu dou conselhos românticos para as pessoas é sempre “vai fundo! fale sobre o que você sente e se permita sentir!” eu não tenho medo de me apaixonar e de ser sincera sobre isso e não entendo porque as pessoas têm.

fiquei pensando e a realidade é que para mim, o medo do fim jamais vai ser mais assustador que o medo de não viver. fins são horríveis, dar adeus é um horror. mas o fim não apaga todas as coisas lindas do durante. os fins não anulam os meios. saber que algo pode acabar não deveria nos impedir de viver. se fosse simples assim, não construiríamos nada em nossas vidas, uma vez que nossa única certeza é a morte.
enquanto esse texto se construía nas minhas ideias, pensei em três das minhas músicas favoritas. uma delas, inclusive, foi a minha primeira tatuagem.
as três músicas têm frases muito parecidas. e um eu lírico que é literalmente eu. vou continuar me apaixonando. vou fazer isso de novo, vou me apaixonar. e, se eu me apaixonar, por favor não me tire dessa.
eu obviamente concordo com o que meu amigo me disse por mensagem. esses sentimentos são assustadores, imprevisíveis e normalmente se associam à dor, à ansiedade e a outros sentimentos difíceis. mas o medo não pode ser o guia das nossas decisões. o fim não deveria ser nossa maior preocupação, mas o meio. fins também são recomeços. e o fim não apaga tudo que vivemos. na realidade, a ideia de finitude só me faz pensar nossas experiências como únicas e especiais. se eu tivesse desistido de mergulhar nos meus apaixonamentos depois da primeira vez que deu errado, eu não teria vivido muitas coisas lindas e mágicas que vivi nos últimos anos. dar certo não é o para sempre, mas o amor que existiu e que sempre existirá. dar certo é ser feliz pelo máximo de tempo possível junto daquela pessoa.
conversando com minha terapeuta - e com meu amigo, o do print -, percebi que minha visão pessimista sobre relacionamentos e sua finitude não é algo universal. talvez seja mais uma das marcas de ser filha de um divórcio ou só uma manifestação do meu pessimismo sentimental. e entendo que isso talvez soe até meio cruel. eu sei, há casais que vivem juntos e apaixonados por todas suas vidas - conheci um! - e casais que são apaixonados, uma dupla perfeita e terminam - conheci alguns. relacionamentos não são feitos só de amor, e amor não é algo que resolve tudo (por mais que tentem nos vender essa ideia). acho que é justamente essa nossa visão do amor que nos faz ter tanto medo de viver qualquer coisa que se aproxime dele.
amor não vai resolver problemas, não vai acabar com a tristeza ou dar sentido para nossa vida. o amor vai ser caótico, bom e ruim, alto e baixo. o amor vai ser algo fora do nosso controle, ingovernável e totalmente contra a nossa racionalidade. eu vou continuar me apaixonando porque isso é uma das várias coisas que me fazem humana. eu vou continuar me apaixonando porque não tenho controle nenhum sobre isso. eu vou continuar sentindo esse monte de sentimentos caóticos porque se eu não viver tudo isso, quais motivos eu terei para sorrir boba ou beber até cair?